POLÔNIO - PRONTO PARA MATAR
O polônio possui características que
o tornam perfeito para ser usado em crimes de envenenamento. Por ser um emissor
de partículas alfa, a radiação do elemento possui curto alcance, sendo incapaz
de atravessar paredes.
Na verdade, a radiação do polônio
pode até mesmo ser interrompida por uma folha de papel ou pela camada de
células mortas da nossa pele. Isso torna o “veneno” muito fácil de ser
transportado, podendo ser levado, inclusive, em um pequeno pote de vidro bem
fechado.
Porém, o polônio se torna letal ao
ser ingerido ou inalado pelo ser humano, já que as partículas radioativas
estarão, assim, em contato direto com os tecidos internos do corpo. Basta 1
micrograma de polônio 210 para matar uma pessoa de 80 kg. Com 1 grama desse
elemento um terrorista poderia contaminar cerca 20 milhões de pessoas e matar
pelo menos metade delas.
Sendo assim, o Po 210 acaba sendo um
veneno ainda mais perigoso, já que, ao exigir uma quantia tão pequena para
matar, ele se torna imperceptível para a vítima. Como se não bastasse, o
polônio 210 é um elemento que evapora com facilidade, o que privilegia o seu
uso na forma de gás para a contaminação de um ambiente.
O que nos deixa mais seguros é a
dificuldade encontrada para se conseguir o elemento. Estima-se que a produção
mundial de polônio 210 não ultrapasse 100 gramas por ano. Além disso, o polônio
possui uma meia-vida muito curta, de 138 dias, e isso faz com que o elemento
tenha que ser obtido e utilizado muito rapidamente.
SINTOMAS
DA INTOXICAÇÃO POR POLÔNIO
Dentro do corpo humano, o polônio tem meia-vida de 30 dias. Isso
significa que, nesse período de tempo, metade da quantidade ingerida do
material acaba sendo eliminada por fezes ou urinas da vítima e, também, pela
própria atividade radioativa do elemento.
Os sintomas da contaminação por polônio variam de acordo com a
quantidade do material que entrou em contato com a vítima. Essa quantidade é
medida em grays (Gy), unidade do sistema métrico internacional para definir a
quantidade de radiação absorvida pela matéria.
·
100 a 200
cGy: a
pessoa não sente sintoma algum imediatamente. Mas, com o passar dos dias,
começa a sentir náuseas e fadiga, podendo ocorrer vômito. A morte, se ocorrer,
será dentro de 5 a 6 semanas;
·
300 cGy: a vítima também apresenta queda
de cabelo e aumentam as chances de falecimento. Desse nível em diante, os
sintomas só ficam piores e a morte, dolorosa e lenta, se torna cada vez mais
certa;
·
600 cGy: a vítima tem 90% de chances de
morrer se não procurar tratamento. As partículas alfa atacam o sistema
sanguíneo, incluindo a medula óssea e os leucócitos, causando hemorragias e
infecções. A morte pode acontecer a partir da quarta semana após o contágio; e
·
750 cGy e
800 cGy: morte
certa. A radiação acaba com a mucosa do sistema gastrointestinal, causando
graves diarreias, sangramentos, perda de fluídos e um grande distúrbio
eletrolítico. Nesses casos, a pessoa sobrevive por apenas 4 semanas, mesmo com
tratamento.
USO DE
POLÔNIO PELA KGB
Alexander Litvinenko antes (esquerda)
e depois do envenenamento
Em 2006, o polônio voltou a ser
personagem em um caso de intriga política. Dessa vez, na Rússia, pátria do
ex-espião da KGB Alexander Litvinenko, que foi envenenado quando começou a se
voltar contra seus superiores e fazer acusações contra o governo de Vladimir
Putin.
Apesar de trágico, o envenenamento de
Litvinenko é considerado o primeiro caso de morte provocada pelos efeitos
agudos da radiação alfa. Acredita-se que a dose de polônio 210 utilizada para o
assassinato do ex-espião foi muitas vezes maior do que a dosagem letal máxima,
levando-o à morte em um período de três semanas.
Além de sentir algumas sintomas já no
dia de seu envenenamento, Litvinenko ficou muito doente cerca de 11 dias depois
e chegou a um estado de saúde crítico no 20º dia de internamento.
O falecimento ocorreu no 23º dia.
Pouco antes da morte, Litvienko sofreu um ataque cardíaco, provavelmente
provocado também pelo polônio, que a essa altura já havia danificado seu
sistema cardiovascular.
CUIDADO:
QUEM FUMA INGERE POLÔNIO!
Apesar de muito perigoso, o polônio
está presente em quantidade alarmante em alguns produtos comerciais, como a
escova utilizada por fotógrafos para eliminar a energia estática durante a
limpeza e manutenção das câmeras fotográficas. Além disso, o polônio também é
usado como fonte de energia termoelétrica em satélites.
O elemento químico descoberto por
Curie também pode estar presente na carne de renas e caribus, além de frutos do
mar, como alguns tipos de peixes, algas e mexilhões. Mas o principal risco vem
mesmo do consumo do tabaco, que absorve por meio de suas raízes o Po 210
presente em fertilizantes à base de fosfato.
De acordo com artigos publicados
no American Journal of Public Health e no Journal of the Royal
Society of Medicine, a indústria tabagista tentou, por mais de 40 anos e em
segredo absoluto, remover o elemento do tabaco utilizado na produção de seus
produtos, mas não obteve sucesso. Os resultados das pesquisas nunca foram
publicados e, além disso, a indústria faz o possível para ignorar o caso e
evita tocar no assunto.
Enquanto isso, cerca de 11.700 pessoas
morrem, anualmente, por causa do câncer de pulmão provocado pela ingestão de
polônio 210, como noticiado pelo jornal The Age.
Será que um dia veremos o símbolo de
radioatividade estampado nos maços de cigarro?
UM POUCO
MAIS SOBRE A QUÍMICA DO POLÔNIO
É possível extrair apenas 0,1 mg de
polônio de 1 tonelada de pechblenda (acima)
Existem 33 isótopos de polônio, sendo
que todos são radioativos e possuem massa atômica que vai de 188 a 220 u.
Desses, o mais comum é o polônio 210 (210Po) que, apesar de ser
produzido naturalmente, também pode ser obtido por meio da manipulação em
laboratórios e reatores nucleares.
Se comparado com o rádio — outro
elemento radioativo —, o polônio 210 emite 5 mil vezes mais partículas alfa,
que carregam muita energia e podem chegar a destruir o material genético de
células do corpo humano. Comparado com o cianureto, o Po 210 é 250 mil vezes
mais letal.
Mas por ser encontrado naturalmente
na superfície terrestre, todos os seres humanos carregam uma quantidade ínfima
de polônio 210 dentro de si. No Brasil, por exemplo, é possível encontrar esse
elemento na areia de praias ricas em tório.
Nesse caso, não há com o que se
preocupar. Mas caso sinta "algo de estranho" no ar, talvez seja
aconselhável uma consulta médica. Principalmente se você trabalhou,
recentemente, como espião para alguma organização secreta.
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